Pensatempo: Juro alto do BC provoca retração da atividade econômica no país

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Juro alto do BC provoca retração da atividade econômica no país


Carlos Lopes, na Hora do Povo

Crescimento das vendas do comércio varejista é zero 

No momento em que o Índice de Atividade Econômica aferido pelo Banco Central (IBC-Br), uma prévia do PIB, mostra um resultado mensal negativo (-0,32% na comparação entre outubro e setembro) e o crescimento das vendas no varejo, na mesma comparação, ficou em zero, é difícil decidir o que é mais ridículo: se a boia que alguns querem arrumar na crise externa, ou se a conversa fiada do novo relatório do Ministério da Fazenda (“Economia Brasileira em Perspectiva Agosto-Outubro/2011”) sobre as propriedades miraculosas do “investimento direto estrangeiro”.
Sucintamente: a economia brasileira foi colocada na situação atual pela política econômica implementada desde janeiro. A crise externa não teve papel algum nessa derrocada – e não há como chamar por nome mais suave o retrocesso ao patamar medíocre do governo Fernando Henrique (aqueles 2,3%, em média, de crescimento do PIB, que fizeram o país vegetar e regredir durante oito anos).
Disse o ministro Mantega, em fevereiro: “O Brasil é hoje um país de 4,5%, 5% de crescimento (…) não tem condições de crescer a 7,5%. Porque você pode ter pontos de estrangulamento. Se continuar crescendo exageradamente, tem falta de mão de obra, de infraestrutura” (ver HP, 02/03/2011).
“Um país de 4,5%, 5% de crescimento?” Puxa vida...
Mas, fora essa, o resto também era, rigorosamente, mentira ou idiotice - ou as duas. Não apenas porque é óbvio que os problemas surgidos do crescimento existem para serem resolvidos - ou nunca vai existir crescimento - mas também por outra razão, mais elementar, sintetizada há poucos dias pelo economista Antonio Corrêa de Lacerda: “O nível da produção industrial do terceiro trimestre deste ano é praticamente o mesmo do período homólogo de 2008, antes dos efeitos da crise do Lehman Brothers. Ou seja, todo o crescimento industrial que tivemos nestes últimos três anos, serviu apenas para retomar o nível atingido naquela ocasião!” (cf. A. C. Lacerda, “Consumo e investimentos”, 12/12/2011).
Claro, isso somente é verdade porque o crescimento deste ano foi abatido com cacetadas de juros, cortes nos investimentos e gastos públicos, arrocho no crédito e no salário mínimo. Mas, evidentemente, revela que o crescimento de 7,5%, em 2010, ainda era apenas uma recuperação parcial do terreno perdido em 2009. Portanto, nada havia de absurdo em continuar a crescer no mesmo nível, até porque os investimentos estavam aumentando bem mais que o consumo – ou, em outras palavras, a capacidade de oferta de produtos crescia mais que a demanda, ou seja, a procura por eles.
Porém, o que se fez neste ano? Aumentaram-se os juros (cinco vezes em seguida), com um resultado desastroso (mais ainda) sobre o câmbio, subsidiando importações. Assim, “o coeficiente de importação [a parcela do mercado interno tomada pelas importações] na produção industrial cresceu de 17% em 2009, para 21,5%, em 2011. Este efeito é ainda mais expressivo em segmentos de elevada sofisticação, como materiais elétricos, cujo coeficiente de importação aumentou de 25% para 33% e máquinas e equipamentos, de 32% para quase 40%” (cf. A. C. Lacerda, art. cit.).
Em janeiro, diante da presidente, Mantega afirmou que, para aumentar os investimentos, era preciso cortar os investimentos públicos, cortar os gastos de custeio do governo e aumentar o superávit primário - o desvio de verbas orçamentárias para pagar juros.
Seria apenas o samba do italiano doido (há quantos anos se sabe que os maiores estímulos aos investimentos privados são o investimento público e as taxas baixas de juros?), se não fosse uma prescrição para locupletar bancos, sobretudo estrangeiros, às custas de toda a economia - isto é, do país.
O resultado é que “os investimentos, que vinham crescendo acima da média da economia, também estão tendo o seu ritmo diminuído” (cf. A. C. Lacerda, “Crise? Vai depender de nós mesmos!”, 21/11/2011).
Aqui, há outra coisa ridícula: a taxa de investimento da economia brasileira. Em 2010, ela ficou em 17,4% do PIB (cf. World Bank national accounts data, “Gross capital formation (% of GDP)”, 2010).
Nem comparemos com a da China (46%) ou com a da Índia (32%).
Vejamos os seguintes países, com suas respectivas taxas de investimento: Vietnã (38%); Bielorrússia (36%); Mongólia (42%); Tanzânia (31%); Uzbequistão (26%); Armênia (29%); Botswana (36%); Albânia (26%); Romênia (31%).
Não parece estranho que o Brasil, com uma economia muito maior e mais complexa – e uma necessidade urgente de crescer - tenha uma taxa de investimento menor que todos esses países?
[Se alguém apresentar os EUA (apenas 14% do PIB de taxa de investimento) como exemplo, diremos que não é à toa que esse país está em tão lastimável situação, pois os investimentos das empresas passaram a ser feitos em outros países.]
O problema no Brasil, porém, é evidente: os juros altos impedem um aumento substancial da nossa taxa de investimento – pela simples razão de que recursos, que poderiam ser investidos, irresistivelmente vão para a especulação, pois, com a garantia do governo, se ganha muito mais e com menos riscos quando aplicados em títulos públicos, hoje também a base da especulação com outros papéis, inclusive o infame cassino dos derivativos.
O que impede o aumento dos investimentos são os juros altos. Jamais os investimentos públicos – que o sr. Mantega só pegou para Cristo porque seu negócio é privilegiar os interesses da máfia financeira. Quanto menos dinheiro público investido, mais dinheiro para os bancos.
Da mesma forma, os “investimentos diretos estrangeiros”, isto é, a compra de empresas nacionais pelo capital estrangeiro, tão incensada pelo sr. Mantega.
De janeiro de 1995 a dezembro de 2010, entraram no país, líquidos, sob a forma de “investimento direto estrangeiro”, nada menos que US$ 379 bilhões e 682 milhões. No entanto, a taxa de investimento da economia caiu de 22,2% do PIB (1994) para 17,4% (2010).
Quando o presidente Lula decidiu acelerar o crescimento, os “investimentos diretos estrangeiros” não serviram para nada, exceto para formar um coro reivindicando isenções fiscais para as multinacionais. Foram os investimentos públicos que aceleraram o crescimento.
No entanto, o novo relatório da Fazenda continua tecendo loas a esses “investimentos diretos estrangeiros”, como se eles tivessem alguma importância para o nosso desenvolvimento, isto é, como se eles não fossem uma bloqueio para o nosso crescimento, ao provocar uma derrama de remessas de lucros para o exterior e uma invasão de importações, consequências inevitáveis da desnacionalização.
Como o gato sempre deixa as suas digitais, diz o relatório: “No terceiro trimestre deste ano, o ingresso de IED alcançou US$17,9 bilhões, mais que suficiente para financiar o déficit de US$10,6 bilhões na conta de transações correntes” (cf., MF, “Economia Brasileira em Perspectiva Agosto-Outubro/2011”, pág. 84, grifo nosso).
Muito interessante essa função (no relatório, é a de maior destaque) do “investimento direto estrangeiro”: cobrir o rombo nas contas externas causado pelo próprio “investimento direto estrangeiro” - pelas remessas de lucros e pelas importações. O fato de mais “investimento direto estrangeiro” aumentar ainda mais o rombo, não entra nas considerações da Fazenda – a solução para cobrir o novo tamanho do rombo é mais, sempre mais, “investimento direto estrangeiro”. Parece uma “pirâmide” de escroques - ou, como chamam os americanos, um “esquema Ponzi”. Parece porque é mesmo. Não é genial essa forma de tratar as contas externas?
CARLOS LOPES

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