Por
Leonardo Wexell Severo, de Caracas-Venezuela
Em
entrevista à Rede ComunicaSul – Comunicação Colaborativa, Fernando Bossi, coordenador
político da Associação Bicentenária dos Povos, articulação que reúne
expressivos movimentos sociais da América Latina e do Caribe, sublinha a
importância da reeleição do presidente venezuelano Hugo Chávez nas eleições do
próximo domingo, 7 de outubro. “Chávez representa a integração
latino-americana, Capriles a desintegração a serviço do império”, sublinhou o
dirigente argentino-venezuelano, para quem “unidade e mobilização são o caminho
para construir a definitiva independência”. Citando o exemplo da Federação
Única dos Petroleiros (FUP) em apoio à decisão soberana da Bolívia de nacionalizar
os hidrocarbonetos, Fernando Bossi ressaltou que são ações que rompem os
estreitos e mesquinhos marcos impostos pelas elites locais e seus meios de
manipulação em massa para consolidar uma perspectiva integracionista, “rumo à nossa
efetiva e definitiva independência”. “A solidariedade cumpre um papel chave na
luta”, sublinhou.
O
que representa a candidatura do oposicionista Capriles?
Capriles
é um candidato de laboratório, resultado de estudos que aprimoraram um discurso
dirigido a setores da classe média e aos ni-ni (nem Chávez, nem contra),
buscando também dialogar com partes descontentes do eleitorado chavista. Por
trás da máscara, o programa do neoliberalismo, de fio a pavio. Se ele não
externa sua real posição e esconde apoios comprometedores, historicamente
vinculados ao passado, é porque sabe que isso somente iria espantar votos.
Afinal, quem votaria pelas privatizações, pela redução do papel do Estado, pelo
corte de gastos sociais? Para que sua candidatura seja viável, tem a necessidade
de mentir. Cabe a nós desmontar nesta reta final a farsa e o engano que
representa, ludibriando parcelas da população com o auxílio dos grandes
conglomerados de comunicação. Chávez tem convocado a militância a deixar de
lado o triunfalismo e disputar voto a voto. Afinal, não há milhões de oligarcas
na Venezuela. Contra o retrocesso, Chávez representa o fortalecimento e
aprofundamento da integração latino-americana. Capriles é a desintegração a
serviço do imperialismo.
Pudemos
ver desde que chegamos em Caracas que a direita e sua mídia batem na mesma tecla,
multiplicando problemas, aumentando dificuldades. Qual a sua análise?
Se
há problemas no metrô, é porque ampliamos o metrô. Se há problemas nas empresas
recuperadas pelo Estado, é porque empresas foram recuperadas, e estão
produzindo, gerando divisas, empregos e salários. Se há deficiências como a
falta de ferro, é porque conseguimos encher as cidades de obras de construção
civil, erguendo dezenas de milhares de moradias populares. Estamos avançando,
ampliando os setores da economia que passam de mãos privadas para o Estado. Ou
seja, o que estamos vivendo são os inconvenientes e dificuldades naturais do
avanço, não do retrocesso. Não será a oligarquia que vai solucionar os
problemas que ela própria criou pela descomunal concentração de renda. A
solução está na revolução e não fora dela.
Começou
a contagem regressiva para as eleições do próximo domingo. Qual a sua leitura
como dirigente que conhece e acompanha Chávez desde quando era um militar
nacionalista que pregava a união latino-americana e caribenha como resposta dos
povos à política de submissão de suas elites ao estrangeiro?
Posso
dizer que o presidente Chávez chamou para si uma tarefa titânica, de enorme envergadura,
que é a de construir uma base que sirva de caminho até o socialismo. É um
momento de grandes definições para o progresso da Pátria, para rumarmos pela
via do socialismo até a independência definitiva. Isso mexe com os interesses
da oligarquia entrincheirada em torno da burguesia importadora. O programa de
Chávez aponta para uma Venezuela potência, produtiva, em que os interesses da
nação estão ligados à integração latino-americana. Para isso precisamos
derrotar o parasitismo e a especulação em nossa sociedade, denunciar e derrotar
a cumplicidade com as multinacionais.
São
poderosos interesses contrariados, o que explica a crescente agressividade dos
discursos e a transformação de meios de
comunicação em ridículos panfletos contra Chávez.
Claro.
O que existe é um foco infeccioso e parasitário que quer se manter dentro do
organismo social. Como será extirpado, luta de todas as formas, daí a magnitude
da reação. O programa de Chávez para os próximos anos representa uma declaração
de guerra à Venezuela improdutiva da oligarquia, que é menos de 1% da sociedade
venezuelana. Os demais 99%, trabalhadores, camponeses, classe média, empresários
produtivos, precisam de um país produtivo, que incorpore as grandes maiorias.
Em oposição a isso temos esse cancro que quer liquidar as bases pelas quais se
poderia chegar à independência integral da Pátria. É isso o que está em jogo no
próximo 7 de outubro. É por esta razão que Capriles apela para a ajuda material
e espiritual de todos os que conspiram contra a soberania dos nossos países e
povos. Daí o papel dos grandes meios de comunicação, do imperialismo
globalizado. Estamos lutando pelo progresso, pela integração, contra as forças
da reação, do poder mundial.
Conte
um pouco sobre a União Bicentenários dos Povos, que dá continuidade ao trabalho
realizado pelo Congresso Bolivariano dos Povos, que articula uma ampla frente
de movimentos sociais na América Latina e no Caribe.
Tudo
começou em 1997 com o Congresso Anfictiônico [mesmo nome daquele realizado em
1826, no Paraná, onde Simón Bolívar propôs a criação de uma confederação de
países para fazer frente ao império do Norte], empenhado na construção de um
forte movimento popular latino-americano, de unidade rumo à independência. De
lá para cá temos trabalhado para aumentar o nível de organização e consciência
do conjunto das entidades populares, para que estejam à altura da árdua tarefa
que é a consolidação da integração. Em nossa opinião, o tamanho do desafio
exige que deixemos de lado as declarações e passemos à construção real da luta.
Se temos hoje governos como o de [Hugo] Chávez; [Rafael] Correa, [Equador];
Dilma [Rousseff, Brasil]; Evo [Morales, Bolívia] e Cristina [Kirchner,
Argentina] é porque existem iniciativas que se transformaram em alternativas.
Cabe ao movimento popular potencializá-las, para que sigam avançando.
Caberia
às organizações populares ousar mais? Que tipo de iniciativas acredita que
poderiam ser tomadas?
Houve
uma mobilização continental em favor da criação de uma Confederação dos Trabalhadores
da Energia, que infelizmente acabou não sendo efetivada. Acredito que nossa região
se destaca pelo potencial energético e nada mais justo do que os trabalhadores
impulsionarem ações para que o Estado transforme potencialidade em realidade,
convertendo esta energia para impulsionar o desenvolvimento, como o Gasoduto do
Sul. No momento em que o presidente Evo Morales nacionalizou a YPF [Yacimientos
Petrolíferos Fiscales] foram afetados poderosos interesses. Quando a
nacionalização tocou a Petrobrás, a direita brasileira queria abrir guerra, mas
graças à presença da Federação Única dos Petroleiros (FUP) na Bolívia, expressando
a solidariedade dos trabalhadores, este ímpeto foi freado. Este é um entre
tantos exemplos de como a mobilização e a solidariedade cumprem um papel chave
nos desdobramentos da luta.
Em
contraposição a este espírito de solidariedade, Capriles tem denunciado o que
chama de “presentinhos” de Chávez para a América Latina. Qual a sua avaliação?
Capriles
bate na tecla de que a Venezuela está presenteando petróleo aos irmãos
latino-americanos. Tal afirmação parte de uma incompreensão absoluta dos
acordos firmados com os diferentes países e, mais do que isso, representa que é
mesmo um porta-voz do imperialismo contra a integração. Na verdade, não é falta
de compreensão, mas uma afirmação carregada de intencionalidade. Ele faz coro
com a desintegração. Ele é herdeiro de [José Antonio] Paes, o que expulsou
Bolívar da Venezuela por não querer a Grande Colômbia, mas a Pátria pequena e
apequenada com a lógica do dividir para reinar. Em favor de quem? Daqueles que
se beneficiaram de sermos semicolônia, nações prostradas, dependentes. Nós
somos fiéis à concepção bolivariana de que nossa força está na integração
latino-americana e caribenha. Isso nos faz afirmar e lutar pela Venezuela
potência, como defende Chávez. Potência para ser um instrumento da Pátria
Grande, da nossa América, rompendo com as assimetrias, fortalecendo nossas
complementaridades.
E
quanto aos presentes? Quais são? Para quem?
Temos
um tratado de colaboração energética com a Nicarágua que, em contrapartida,
entrega para Venezuela carne bovina de primeira qualidade. Fala-se de um
hospital em Montevidéu, mas não se diz do aporte que o Uruguai nos tem brindado
com seus laboratórios, técnicos e pesquisas para gado, com seu software e
produtos alimentícios da sua indústria láctea. Em todos esses acordos está
muito presente a reciprocidade. Capriles e sua mídia não entendem nada disso, a
única posição que conhecem é a da submissão.
Ao
imperialismo estadunidense.
Ao
imperialismo estadunidense, precisamente. O mesmo imperialismo que promove
golpes de Estado e invasões pelo mundo inteiro, como vimos recentemente contra
o heroico povo da Líbia, como está fazendo agora contra a Síria. Contra esta
política fascista, nossa blindagem é a unidade que temos alcançado. Sabemos
também que política não é só reciprocidade, que é preciso ter força material e
moral. A política de erradicação do analfabetismo, por exemplo, é um resultado
positivo da somatória de ações e já temos Venezuela, Nicarágua, Bolívia e,
logo, o Equador, com o decisivo apoio de Cuba, livres desta chaga. Hoje a
Bolívia tem brigadas de alfabetização trabalhando fora de suas fronteiras,
ajudando quem precisa. Vivemos então um processo de integração sério, que
ultrapassa as declarações burocráticas. Mais do que palavras, o que temos hoje são fatos concretos. Cito
outro exemplo, a Missão Milagre, que já operou mais de três milhões de pessoas
e lhes devolveu a visão. São vitórias imensas que muitas vezes se desconhecem,
porque são invisibilizadas pelos aliados, sócios e lacaios da desintegração. O
bolivarianismo é sinônimo de integração.
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