“Aqui já não mandam os banqueiros, o
FMI e os meios de comunicação”, sublinhou o presidente equatoriano.
Leonardo Severo, Felipe Bianchi e
Érika Ceconi, de Quito-Equador
O presidente do Equador Rafael Correa
foi reeleito neste domingo (17) para mais um período de quatro anos. Com cerca
de 70% das urnas apuradas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Correa conta
com 56,7% dos votos. O mandatário concorreu com sete candidatos, entre eles o ex-banqueiro
de Guayaquil, Guillermo Lasso, que obteve 23,3%, e o ex-presidente Lucio
Gutiérrez, destituído em 2005, que ficou em terceiro lugar com 6,6%.
Informado da expressiva vitória,
Correa foi até a sacada do palácio presidencial Carondelet e saudou a multidão
que tomava a Praça da Independência com bandeiras equatorianas e do seu
movimento, o Alianza País, que conforme projeções também elegeu a maioria da
Assembleia Nacional.
“Esta revolução nada nem ninguém
deterá. Estamos fazendo história. Estamos construindo a pátria pequena e a
Pátria Grande [América Latina]”, destacou o presidente reeleito, sublinhando
que “o melhor ainda está por vir”. “Não queremos nada para nós, somente deixar
a nossos filhos e aos filhos dos nossos filhos um país cada vez melhor”.
São inúmeros os avanços conquistados
pelo povo equatoriano ao longo dos últimos seis anos. Do ponto de vista
econômico, vale citar que o Produto Interno Bruto do país cresceu
aproximadamente 5% em 2012, contra apenas 1% do Brasil, situando-se como um dos
países com maior crescimento no continente. Além disso, a pobreza foi reduzida
significativamente: antes da Revolução Cidadã, 16,9% da população estava na
linha da miséria. Este número caiu para 9,4% e, pela primeira vez, está em um
digito.
O desemprego registra uma taxa de
4,2%, a mais baixa da história do país. Os investimentos aumentaram de forma
expressiva: foram mais de oito mil quilômetros de estradas e oito centrais
hidrelétricas construídas, além da Refinaria do Pacífico, avaliada em cerca de
US$12 bilhões e já em estágio avançado. No campo social, Correa quadruplicou os
investimentos em saúde e educação.
Já os portadores de deficiência
tiveram uma série de políticas públicas: mais de 200 mil equatorianos recebem
auxílio individual por parte do Estado, tornando o país uma referência na
assistência e na inclusão social. O “Bônus de Desenvolvimento Humano”, que
beneficiou 1,8 milhões de pessoas, contempla uma série de medidas assistenciais
aos idosos e mães solteiras chefes de família.
FESTA EM QUITO
Mais tarde, na festa da vitória em
frente à sede do Alianza País, Correa agradeceu mais uma vez o enorme apoio
popular, lembrando que “este era um país onde um presidente era eleito com 23%
dos votos”, e em que num período de apenas 10 anos passaram sete presidentes,
três que o antecederam depostos por serem “traidores e entreguistas”.
Agradecendo o “resultado
impressionante”, o presidente reeleito ressaltou que o recebia com “humildade”,
mas também “com total responsabilidade e firmeza” para avançar o processo da
Revolução Cidadã, defender a “Pátria livre e independente, com soberania e
valentia”, e derrotar “os traidores”, “a direita ideológica”.
“O nosso compromisso é que o velho
país jamais voltará aos anos de entreguismo, de terceirização e exploração
laboral, de entrega do nosso patrimônio ao estrangeiro para pagar uma dívida
imoral. Aqui já não manda o Fundo Monetário Internacional, os meios de
comunicação, os países hegemônicos”, declarou. “Libertaremos o nosso país das
amarras, transformaremos este Estado burguês e construiremos um Estado
efetivamente popular”.
Correa reiterou o papel da ação
coletiva para o êxito eleitoral, apontando que “era fácil fazer campanha” pela
atuação da gestão governamental, pois floresceram nas diferentes regiões
“rodovias, pontes, hospitais e unidades de polícia comunitária”.
Reafirmando seu “carinho, compromisso
e entrega”, Correa citou nominalmente vários patriotas que tombaram para
defender a sua vida, quando da tentativa de golpe em setembro de 2010.
Emocionados, os presentes aplaudiam a cada nome caído na agressão, onde
militares e guarda-costas foram assassinados a sangue frio por defenderem a
ordem constitucional e o mandato presidencial. Diante do sangue derramado,
recordou, os grandes conglomerados de comunicação usaram de caricaturistas,
“piratas da tinta”, para fazer piada e abrandar o crime cometido.
“Expresso também minha gratidão aos
migrantes”, frisou Correa, diante do mais do que expressivo apoio obtido no
estrangeiro, onde a vitória do Alianza País foi de 8 por 1 e até 10 por 1.
Milhares de famílias foram obrigadas a abandonar o país nos anos de
neoliberalismo.
O presidente concluiu seu
pronunciamento citando o libertador Simón Bolívar, Eloy Alfaro (líder
nacionalista equatoriano), José Martí, Che Guevara e Dolores Cacuango,
combatente indígena que lutou pelo direito à terra e à língua quíchua. “Fomos
precedidos neste sonho de uma Pátria melhor. Que nos iluminem os exemplos
destes heróis”.
Terminado o discurso, começou a
verdadeira festa, com o presidente e vários ministros e parlamentares eleitos
cantando e dançando no palanque, animando a celebração ao lado de conjuntos
musicais. No repertório, clássicos da música popular latino-americana,
incluindo Aquarela do Brasil, de João Gilberto, embalaram e aqueceram a fria
noite quitenha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário