Pensatempo: novembro 2013

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Observadores internacionais denunciam: “fraude eleitoral foi institucionalizada em Honduras”

 
 
“A fraude eleitoral foi institucionalizada em Honduras”, denuncia manifesto da Via Campesina, cujos observadores internacionais se mantiveram ativos em aproximadamente 400 mesas eleitorais do país no último domingo (24).
Entre outros crimes, os observadores puderam comprovar “compra de votos, tentativas de suborno, cédulas pré-marcadas, violação ao voto secreto e emissão de dados antecipados por parte do Tribunal Superior Eleitoral em base a urnas ainda não contabilizadas”, além de diversas ações de “pressão e violência mediante ameaças e agressões, que se fizeram ainda mais graves na área rural”.
 
Conforme o Partido Livre (Liberdade e Refundação), de Xiomara Castro, os resultados parciais divulgados com estardalhaço pelo TSE, e repercutidos pelos grandes conglomerados de comunicação como a antessala da eleição do candidato do Partido (ANTI)Nacional e da embaixada americana, Juan Orlando Hernández,
Soldados encapuzados en Rigores, Honduras
ocultavam um grande percentual de urnas contrárias ao governo. Mais exatamente 1.900 atas ou o equivalente a 400 mil votos de regiões favoráveis a Xiomara.
 
A Missão Sindical Internacional de Observação Eleitoral, organizada pela Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas (CSA), se fez presente na capital e no interior do país, e também alertou para as “graves evidências de fraude". 
 
Na sede do Comitê de Familiares de Detidos e Desaparecidos de Honduras (Cofadeh), o Jubileu Sul, a CSA e outras sete organizações e redes sindicais apresentaram na terça-feira um informe preliminar em que manifestam “sérias preocupações” sobre o processo eleitoral hondurenho. “Durante todo o dia se receberam denúncias de diversas formas de manipulação e compra de votos, ameaças e outros atos de violência contra fiscais e votantes do Partido Livre. A Missão de observação recebeu testemunhos destes atos e alguns deles foram presenciados por seus representantes, assim como recolheram denúncias várias organizações internacionais que se deslocaram para observar o pleito”, ressaltou nota.
 
ALERTA - “Advertimos sobre o perigoso momento que vive o país, ante a fraude montado pelos mesmos personagens e instituições responsáveis pelo golpe de Estado de 2009 (que depôs o presidente Manuel Zelaya). O não reconhecimento da vontade do povo está criando um clima de tensão e angústia que aprofunda a instabilidade e a falta de institucionalidade em Honduras”, alertam as entidades.
 
A Via Camponesa também denunciou que parte de sua delegação de observadores vinda de El Salvador foi impedida de entrar no país. “Unido a isso queremos denunciar à comunidade internacional o assassinato de Amparo Pineda e Julio Romero, líderes comunitários da localidade de Cantarranas, no município de San Juan de Flores, Departamento de Francisco Morazán, por vários homens encapuzados, com armas de grosso calibre. Os dirigentes foram mortos quando regressavam de uma capacitação eleitoral a doze horas do início das eleições”.
 
Conforme Florencia Goldsmann, do Observatório das Violações dos Direitos Humanos Resistência das Mulheres no Contexto Eleitoral, na comunidade de Rigores, no Departamento de Colon, soldados e policiais encapuzados ameaçavam os camponeses, criminalizando a oposição ao governo.
 
Mesmo observadores internacionais foram submetidos a esta truculência quando militares encapuzados adentraram o Hotel La Aurora, em Tegucigalpa, tentando apreender seus passaportes e dificultar o registro das ilegalidades.
 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

“Povo hondurenho defenderá nas ruas a sua vitória nas urnas”, afirma Zelaya

“Exigimos que se respeite a decisão do povo de que Xiomara seja sua presidenta”, ressalta o coordenador do Partido Livre, repudiando a fraude

Leonardo Severo - Direto de Honduras

Soldados cercam protesto pacífico contra o golpe eleitoral
Exigimos que se respeite a decisão do povo de que Xiomara Castro seja a sua presidenta. Não importa o que façam, porque esse processo se iniciou e ninguém vai pará-lo”, afirmou o coordenador do Partido Livre (Liberdade e Refundação), Manuel Zelaya. Junto a centenas de militantes, o ex-presidente destacou durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (25) em Tegucigalpa que, “se necessário, o povo defenderá nas ruas a sua vitória nas urnas”.
Deposto por um golpe militar patrocinado pelos EUA em 2009, Zelaya enfatizou que “as urnas falaram em defesa de uma mudança profunda” e denunciou que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) age em função dos interesses da oligarquia vende-pátria, representada pelo candidato Juan Orlando Hernández, do Partido (Anti) Nacional.
 “O Tribunal não está contabilizando 1.900 atas, cerca de 400 mil votos, de zonas em que na sua grande maioria o Partido Livre ganhou amplamente. Estamos prontos para comparar as atas que temos com as que chegaram do TSE. Que eles demonstrem o contrário, que perdemos. Nunca poderiam fazê-lo”, acrescentou Zelaya, aplaudido de pé.
Segundo Zelaya, a disposição do Partido Livre não é a de “conclamar a sublevação, mas de garantir direitos, que não se negociam”. “Por que o Tribunal aparta 20% das urnas em seu resultado? Basta ter um mínimo de inteligência para explicar”, condenou o ex-presidente, com a militância respondendo em coro: “vamos às ruas!”.
A presidenta eleita, Xiomara Castro, dedicou a vitória aos “homens e mulheres que entregaram sua vida por esta causa, aos jovens que doaram seu sangue pela liberdade da Pátria e de todo o povo hondurenho”. “Os dados que recebemos de todo o país com a contagem das atas eleitorais confirmam que sou a presidenta da Honduras. Não vou decepcionar, cumpriremos da primeira a última palavra empenhada”, agradeceu.

RECHAÇO À FRAUDE
Comitê de Familiares de Detidos e Desaparecidos denuncia
O candidato do Partido Anti-Corrupção (PAC), Salvador Nasralla, também rechaçou a fraude: “Os resultados estão dramaticamente violentados e não correspondem à realidade”. Nasralla, um apresentador de televisão, asseverou que o partido governista utilizou dois call centers para produzir e escanear atas falsas. Elas seriam enviadas ao centro de apuração, adulterando os resultados. “Tenho todas as provas e já apresentei uma denúncia à fiscalização. Além disso, o partido do governo comprou muitos dos representantes de mesa do meu partido, para que se retirassem do centro de votação e não defendessem nossos votos”, disse.
Reforçando esta denúncia, a TV Globo de Honduras divulgou entrevistas com inúmeros fiscais que comercializaram suas credenciais partidárias para o Partido Nacional. A reflexão é elementar: pela legislação eleitoral as mais de 16 mil urnas necessitariam de, pelo menos 32 mil pessoas de cada partido, entre fiscais e suplentes. Tais agremiações deveriam ter, portanto, pelo menos esses dois votos. Abertas as urnas, os partidos que atuaram como legenda de aluguel, todos juntos, não somaram sequer 1% dos votos. Formados para isolar o Partido Livre, seus “representantes” atuaram para controlar as mesas eleitorais e armar a fraude.
“GRAVES EVIDÊNCIAS DE FRAUDE”
 Foi o que viu a delegação de observadores da Confederação Sindical Internacional (CSI), que apontou a existência de “graves evidências de uma fraude eleitoral”. “Durante todo o dia recebemos denúncias de diversas formas de manipulação e compra de votos, ameaças e outros atos de violência contra os fiscais e os eleitores do Livre”, informou a CSI, ressaltando que “alguns deles foram testemunhados pelos representantes da missão, assim como pelas várias organizações internacionais aqui vindas para observar as eleições”.
Denis Roberto foi brutalmente agredido pelos fascistas
Também nesta segunda-feira à tarde, no Comitê de Familiares de Detidos e Desaparecidos de Honduras (Cofadeh), a canadense Laura Carter, dirigente do Industrial Global Union, apontou a existência de “uma série de irregularidades, que podem ter impacto determinante nos números divulgados pelo TSE". Laura informou que na zona de São Miguel, na região metropolitana de Tegucigalpa, que conta com 50 mil votantes, força expressiva de Xiomara, nada menos do que 400 eleitores apareceram como "mortos" - sendo retirados da lista, sem poder votar - e outros mil simplesmente "desapareceram do registro".

Marcelina Samaniego, representante da Internacional dos Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM), denunciou “a sonegação de informações e o não envio das planilhas de votação”. Como na região de San Pedro Sula, Xiomara liderava, esclareceu Marcelina, o jovem que manejava o computador e centralizava o processo lhe disse ter "orientações claras" para atrasar o envio de urnas desfavoráveis. "Nós não podíamos ter acesso e a Força Pública e a Militar estavam ali para respaldar o que eles dissessem", acrescentou. 

Denis Roberto Aguilar Gomez, fiscal do Partido Livre na Escola Tomas Alvarez na mesa 9357, no bairro Nova Esperança, na região metropolitana de Tegucigalpa, foi agredido por 20 fascistas do Partido Nacional. Quando foi denunciar aos policiais militares acabou sendo detido ilegalmente e agredido, por ser de oposição. "Me torturaram dentro da escola", relatou, mostrando as marcas da agressão.

PERSEGUIÇÃO E INTIMIDAÇÃO

Às vésperas das eleições de domingo (24), o governo hondurenho utilizou policiais militares e da migração para perseguir e intimidar observadores internacionais, identificados como simpatizantes de Xiomara. Personalidades como Rigoberta Menchú, prêmio Nobel da Paz, foram impedidas até de entrar no país. Ao mesmo tempo, os golpistas convidaram 23 organizações de extrema direita para acompanhar o pleito.

Na cidade de El Progreso, próxima a San Pedro Sula, um dos principais polos da resistência ao golpe contra Zelaya, cinco soldados da Migração, fortemente armados, entraram no centro de capacitação da Igreja em busca de “salvadorenhos”. Terceira principal cidade do país, El Progreso é o berço de Roberto Micheletti, ditador alçado ao poder em 2009.

Na capital, Tegucigalpa, prefeitos e parlamentares da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), que governa El Salvador, também foram abordados e constrangidos por policiais a poucos metros do Honduras Maya, hotel em que estamos hospedados.

Nesta segunda, soldados fortemente armados voltaram a cercar o hotel, tentando impedir um protesto pacífico contra a fraude eleitoral, condenada em coro como um novo golpe. “Mídia vendida, conta-nos bem, não somos um, não somos cem”, alertaram os manifestantes, repudiando a manipulação dos grandes conglomerados de comunicação em favor dos golpistas.